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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

:: Vai Passar ::

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca …

Caio Fernando Abreu 


[Porque eu soube continuar..

E apesar de algumas memórias latejarem loucas 
em dias de lua..
 Continuo continuando.]

.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

. Eu queria tantas coisas..

.. Mas tenho bem mais do que imagino.


Pra sempre ser a sua garota favorita.
Eu queria que você pensasse que eu sou a sua razão de estar no mundo.
Eu queria que meu sorriso fosse o seu sorriso favorito.
Eu queria que sem mim o seu coração se partisse.
Eu queria ser a última coisa em que você pensasse antes de dormir.
Eu queria que você precisasse de mim.
Basicamente, eu queria que você me amasse...
Tudo que eu sei é que você é a coisa mais adorável que eu já vi.
Eu queria que nós pudéssemos ser algo, ainda e sempre.

Mas eu sei que eu não sou o que você sempre sonhou...

[Você não sonharia tão alto!]

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

. O dia que Júpiter encontrou Saturno .

Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodka, gelo e uma casquinha de limão. Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela. A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha. Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Molhou os lábios na vodka tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada. Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira. Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso. Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos.

Não que estivesse triste, só não sentia mais nada.

Levemente, para não chamar atenção de ninguém, girou o busto sobre a cintura, apoiando o cotovelo direito sobre o peitoril da janela. Debruçou o rosto na palma da mão, os cabelos lisos caíram sobre o rosto. para afastá-los, ela levantou a cabeça, e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco parada assim, meio remota, o moço das calças brancas veio se aproximando sem que ela percebesse.

Parado ao lado dela, vistos de dentro, os dois pintados em aquarela - mas vistos de fora, das janelas dos carros procurando bares na avenida, sombras chinesas recortadas contra a luz vermelha.

E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou every dau, every way is getting better and better. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos dos moço. As memórias que cada um guardava, e eram tantas, transpareceram tão nitidamente nos olhos que ela imediatamente entendeu quando ele a tocou no ombro.

-Você gosta de estrelas?
-Gosto. Você também?
-Também. Você está olhando a lua?
-Quase cheia.
Em Virgem.
-Amanhã faz conjunção com Júpiter.
-Com Saturno também.
-Isso é bom?
-Eu não sei. Deve ser.
-É sim. Bom encontrar você.
-Também acho.

(Silêncio)

-Você gosta de Júpiter?
-Gosto. Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra".
-Que é isso?
-Um poema de um menino que vai morrer.
-Como é que você sabe?
-Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro.

(Silêncio)

-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.

(Silêncio)

-Como é que você sabe?
-O quê?
-Que o menino vai se matar.
-Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda.
-Eu não sei nada.
-Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo.
-Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
-Ninguém compreende.
-Às vezes sim. Eu te ensino.
-Difícil, morri em dezembro. Com cinco tiros nas costas. Você também.
-Também, depois saí do corpo. Você já saiu do corpo?

(Silêncio)

-Você tomou alguma coisa?
-O quê?
-Cocaína, morfina, codeína, mescalina, heroína, estenamina, psilocibina, metedrina.
-Não tomei nada. Não tomo mais nada.
-Nem eu. Já tomei tudo.
-Tudo?
-Cogumelos têm parte com o diabo.
-O ópio aperfeiçoa o real
-Agora quero ficar limpa. De corpo, de alma. Não quero sair do corpo.

(Silêncio)

-Acho que estou voltando. Usava saias coloridas, flores nos cabelos.
-Minha trança chegava até a cintura. As pulseiras cobriam os braços.
-Alguma coisa se perdeu.
-Onde fomos? Onde ficamos?
-Alguma coisa se encontrou.
-E aqueles guizos?
-E aquelas fitas?
-O sol já foi embora.
-A estrada escureceu.
-Mas navegamos.
-Sim. Onde está o Norte?
-Localiza o Cruzeiro do Sul. Depois caminha na direção oposta.

(Silêncio)

-Você é de Virgem?
-Sou. E você, de Capricórnio?
-Sou. Eu sabia.
-Eu sabia também.
-Combinamos: terra.
-Sim. Combinamos.

(Silêncio)

-Amanhã vou embora para Paris.
-Amanhã vou embora para Natal.
-Eu te mando um cartão de lá.
-Eu te mando um cartão de lá.
-No meu cartão vai ter uma pedra suspensa sobre o mar.
-No meu não vai ter pedra, só mar. E uma palmeira debruçada.

(Silêncio)

-Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
-Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
-Vamos nos ver?
-No teu chá. No meu chá.
(Silêncio)

-Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
-Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.
-O tempo existe, sim, e devora.
-Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
-Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.
(Silêncio)

-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.

(Silêncio)

-Tudo isso é muito abstrato. Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos.
-Você quer dormir comigo?
-Não.
-Porque não é preciso?
-Porque não é preciso.

(Silêncio)

-Me beija.
-Te beijo.

Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas, querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz.

Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos junto à janela. Baixou outra vez os olhos, embora magro também. E suspirou soltando os ombros, pés inseguros comprimindo o piso instável do elevador. Só porque era sábado, porque estava indo embora, porque as malas restavam sem fazer e o telefone tocava sem parar. Sorriu olhando em volta.

Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo.

Levemente, para não chamar a atenção de ninguém, apertou os dedos da mão direita na porta aberta do elevador e atravessou o saguão de lado, saindo para a rua. Apoiou-se no poste da esquina, o vento esvoaçando os cabelos, e para evitá-lo ele então levantou a cabeça e viu o céu. Um céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Visto assim parecia não um moço vivendo, mas pintado num óleo de Gregório Gruber, tão nítido estava ressaltado contra o fundo da avenida, e assim estava, mas sem compreender, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco, a moça debruçou-sena janela lá em cima e gritou alguma coisa que ele não chegou a ouvir. Parado longe dela, a moça visível apenas da cintura para cima parecia um fantoche de luva, manipulado por alguém escondido, o moço no poste agitando a cabeça, uma marionete de fios, manipulada por alguém escondido.

De repente um carro freou atrás dele, o rádio gritando "se Deus quiser, um dia acabo voando". Na cabeça dele soaram cinco tiros. De onde estava, não conseguiria ver os olhos da moça. De onde estava, a moça não conseguiria ver os olhos dele. Mas as memórias de cada um eram tantas que ela imediatamente entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás.

- Caio Fenando Abreu -

[Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo
De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios]

.

Mas o tempo,
o tempo devora.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

:: Ela e a sua Janela ::



Ela e sua menina
Ela e seu tricô
Ela e sua janela, espiando..

Com tanta moça aí
Na rua o seu amor
Só pode estar dançando

Da sua janela
Imagina ela
Por onde ele anda
E ela vai talvez
Sair uma vez
Na varanda

Ela e um fogareiro
Ela e seu calor
Ela e sua janela, esperando..

Com tão pouco dinheiro
Será que o seu amor
Ainda está jogando?

Da sua janela
Uma vaga estrela
E um pedaço de lua
E ela vai talvez
Sair outra vez
Na rua

Ela e seu castigo
Ela e seu penar
Ela e sua janela, querendo..

Com tanto velho amigo
O seu amor num bar
Só pode estar bebendo.

Mas outro moreno
Joga um novo aceno
E uma jura fingida
E ela vai talvez
Viver duma vez
A vida .

. Chico Buarque .


[Eu sentia que, dentro de mim,
Alguma coisa nova estava nascendo.]  

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Reflorindo..




Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho

Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim!


. Vander Lee . 
 

[É que a minha primavera ainda tem
 a sintonia que renovam 
as verdadeiras cores.]

.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

. Como vc me dói vezenquando..

Eu dava um cavalo branco para ele, uma espada...
Dava um castelo e bruxas para ele matar...
Dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse.
Fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos..

Até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe.
Mas, ele não soube.
Acho que ele não queria.

E eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique, a gente constrói qualquer coisa, até um castelo...

- Caio Fernando Abreu -




[Te quis bem
Todos os dias que sucederam agosto
E todos os dias que ameaçaram vir..]

.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

.:. Porque hoje é dia especial..




"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra."




[Ele me traz pequenas grandes alegrias.
Eu o amo.
Ele me ama.

Meu bem,
Quero te ver sempre feliz.
Sempre bem.
Estou aqui para o que der e vier, beibeeeeerr.


E digo mais..
Gosto dele pq posso,
não dou valor à qualquer troço!]

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

.. Bagunças de um sábado à noite.



As borboletas que habitam meu estômago dormem.
Prefiro assim..

Meus olhos se esquivam dos teus.
Mas eis que você passa, fazendo todas elas acordarem..
E me dá uma raiva de você!

As borboletas precisam de descanso e eu tento não acordá-las, sabia!?


Mas você bagunça tudo quando passa!
Até o vento desconsertado, deixa meu jardim bagunçado.
E as borboletas sempre despertam..
Batendo suas asas e fazendo doer agudo esse meu vácuo interior.
Eu sei que elas devem acordar..
Sei também que as cores do meu jardim precisam ser renovadas..

Mas não serão mais seus olhares nem acenos que farão tudo ressurgir e voltar a viver.. Isso não.


Pelo menos eu tento.


.. Sem conseguir.

[Os meus olhos vidram ao te ver
São dois fãs, um par.]

domingo, 15 de novembro de 2009

. E nem sequer era primavera ..





Lembro tão bem que, ainda que não tivesse sido ontem, continuaria sendo ontem na memória..

.. Embora eu quisesse que fosse o hoje e o amanhã.





[Domingo é dia de sonhar até mais tarde.
É dia cheio de vitalidade 
e vontade de abrir as janelas..
Mas por enquanto
Choro com a cabeça escondida no travesseiro..
E não compreendo.]

sábado, 14 de novembro de 2009

. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem?

.. Sem que se consiga controlar.




Às vezes ela resolve se desencantar, pensar que tudo era uma máscara colorida, ilusão e ponto!
Mas é tudo em vão.
Ela não consegue.

Sem diversões. Sem companhias.. (ou até mesmo com tudo isso).
Tanto faz: Ela continua sozinha. Muito sozinha..
Sente falta.. Saudade.
E ainda se pega pensando que estaria melhor na presença dele,
Imaginando pela enésima vez o que poderia ter sido..
O que poderiam ter vivido.. aprendido.. sentido.. sentido.. aprendido.. vivido..

Ela não quer lembrar, mas sempre esquece de esquecer.
E enquanto não lembra de esquecer, vai à janela do seu quarto, se desfaz em pedaços (que na verdade já estavam desfeitos desde a última conversa) e sai por aquelas grades.
Voa, pedacinho por pedacinho, fazendo grande esforço, até chegar à ele.

Todos seus pedaços lá e ela se deixa repousar em cima daquele corpo que já nem lembra mais do calor que tem o dela.
Ainda assim, ela se sente contente, enquanto cada pedaço seu vai se refazendo devagar.. bem devagar.
Nesse momento, ela tem ainda mais certeza que o corpo dele tem a medida exata do dela.

Ela o vê num sono tranquilo e pensa no que ele poderia estar sonhando.
Não há sequer resquícios seus naqueles sonhos.

Então ela se desfaz e volta pra casa..

De onde não deveria ter saído.

- Essa janela deve continuar fechada.



[Ela toma um banho, 
olha pelas janelas 
e passa o resto da noite pensando 
no que poderia ser.

Ele não lembra...

Ela lembra de não lembrar...]



.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

.: Desperdiçando o meu mel ..

.. Devagarzinho, flor em flor.

Vez em quando ela resolve ensaiar encontros e alegrias..

Forjar o fim das suas esperas.
Resolve pensar que o mundo voltou a ser colorido..
Mas ela acorda.
Acorda e vê que tudo continua como está: Vazio e cinza.
E a cama, que hoje deveria estar mais apertada, continua com o mesmo espaço de sempre..

Sentia uma profunda falta que ela não sabia o que era.. Sabia só que doía, doía.. Sem remédio.
E de tanta dor, ela começa a acreditar que não pode mais seguir com aquilo.
Aquele nó no peito, aquele coração tão ferido, tão dilacerado..
Ela não combina com cinza e sabe disso.
Então, que venha o colorido!

Quando puder, ela certamente renascerá.. Como a primavera, que se deixa cortar para renascer inteira e mais bonita, mesmo com as cicatrizes..

Então ele saberá que ela se feriu..


..Mas se curou.

. Maybe, Janis Joplin .




[Através da fotografia, vejo teus olhos de terra molhada..
É a única forma que tenho para tentar entender tudo o que aconteceu..
E não entendo.
Definitivamente, não entendo.]

.

domingo, 8 de novembro de 2009

.: Parece cocaína..

..Mas é só tristeza.





Na verdade não estava triste,
Apenas não compreendia o que estava sentindo...
E sem querer entender de tristeza – mas entendendo o que sentia no fundo de si mesma – abraçou forte o travesseiro e dormiu.

Como quem deseja nunca mais acordar ...

.

Chorei três horas, depois dormi dois dias.
Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada.
Olhar, quando já não se acredita no que se vê.
E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite.
E não ter nada além deste amplo vazio
que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim,
sozinho em si mesmo,
completo, total.

- Caio F. -




[É só hoje e isso passa..
Só me deixe aqui quieto, isso passa!
Amanhã é outro dia, não é!?]

.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

. Brotam espaços azuis quando eu penso..

.
"Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! Como se fosse verdade, um beijo."



Sabe, queria que meu pensamento tivesse mesmo essa força que ele, às vezes, demonstra ter..
E se ele tivesse?!?
Bem, se ele tivesse, eu certamente não estaria em casa, num feriado, pensando em como seria se o meu pensamento tivesse mesmo essa força..

Eu estaria usando dela e fazendo acontecer tudo que eu mais queria nesses últimos dias.. Uma presença.

E já seria o suficiente..

A noite teve trilha sonora: Futuros Amantes, do Chico..
Porque nada é pra já..


. Ahhh esses seus olhos cor de terra..
Me dá tanta saudade que
eu até posso sentir o cheiro deles..
E até hoje eu ainda não consegui 
descrever o que sinto
quando eles me vêm à memória .




.


sábado, 31 de outubro de 2009

. Diálogo Interior ..

Ela : Eu preciso muito, muito de você.
Eu quero muito, muito você aqui de vez em quando.. Nem que seja muito de vez em quando.
Você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor.
Você não precisa trazer nada.. Só você mesmo.
Você nem precisa dizer alguma coisa no telefone.
Basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio.
Juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro..
Mas eu preciso muito, muito de você.

Ele: Tenho medo de te ferir, mas acho que precisamos 'falar seriamente'.
Desculpe, mas acho que sim, sem fantasia, sem comicidade.
Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais - se você não está projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado - esperando a minha volta como quem espera a salvação.

.

"Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê.
E tanto tempo terá passado que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância..
Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-me viva.
Você rasga devagar seu pulso com as unhas para que eu possa beber.
Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor e você esquecerá como se esquecesse um compromisso sem muita importância.
Uma fruta mordida em silêncio no prato."




[Olhei para dentro de mim e só havia sangue.
Derramado, como nas cirandas.
Queria acordar, mas não era um sonho.]




.



quarta-feira, 28 de outubro de 2009


. D o l o r i d o - C o l o r i d o .
.
Eu queria te dizer uma porção de coisas de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs..
Não importa a cor.
É, a cor! O tempo é só uma questão de cor, não é?!
(...) Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você..
Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas..
E pensava que amar era só conseguir ver e desamar era não mais conseguir ver, entende?
(...) Por que você fica sempre (...) me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca?
Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer..
Olha, antes de você ir embora eu quero te dizer que ........ ... . . . . . . . . .
(Não houve tempo..)
Caio F. Abreu

[Será que é fácil pintar uma máscara colorida 
quando o que se tem são apenas tons cinzentos 
e um pincel desgastado???]
 
.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

. Ela quer silêncio .



Às vezes é preciso recolher-se.
O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta.
A ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas.
Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir.
É um começo de sabedoria... e dói.
Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento..
Além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido.
Amar era tão infinitamente melhor..
Curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico.
Não queremos escutar essa lição da vida.
Amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador.
Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta.
Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade e ficamos quase sem sonhar.
Quem nos vê nos julga alheados.
Quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre e a gente mesmo, às vezes, desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre e feliz.
Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda, há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silêncio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.

Lya Luft


. Silêncio por favor. Enquanto esqueço um pouco a dor no peito. Não diga nada sobre meus defeitos. Eu não me lembro mais quem me deixou assim... Hoje eu quero apenas uma pausa de mil compassos .

É cedo ou tarde demais?


"Como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira.. É, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim: avenca, samambaia, roseira.. Mas nunca, em nenhum momento, essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas e depois as portas e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente…”
. Caio F. Abreu .


Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube que ias comigo.
Até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
. Pablo Neruda.



[Então ele foi embora..
Enquanto eu fico aqui tentando manter o meu jardim vivo..]

.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Boas Vindas!


Não tente entender aquilo que eu não faço tanta questão de explicar...
Defino-me assim: indefinida.
Já nasci pronta, mas vivo inacabada.
Sou inteira, em partes encaixadas.
Me sacio, mas volta e meia... insatisfeita.
Me escrevo e reescrevo, não quero o meu final.

Estou na metade do capítulo... ou do versículo.
Queria ser um poema... embora escrevendo um livro.
Sou paixão personificada, amor em minha essência.
Saudade do que não tenho.
Lembrança do que já tive.

Ausência...
Não sou santa, eu não nego!
Um tanto louca, me confesso.
Tenho medo, mas sempre valente.
À vezes caio, outras só escorrego.
Mas se for o caso, pulo, mergulho...

Não me tente, eu me entrego.
Sou parte do mar, muito do céu...
Meus pés vivem no chão, meu coração vive ao leo.



.Meu coração é uma montanha-russa.